sábado, 20 de abril de 2013

Minha primeira turma de Rabugentos


Como eu já contei a vocês eu tenho uma facilidade gigantesca para me foder, é uma constante na minha vida e como também já expliquei, ficou mais grave na vida adulta. Apesar de ser um problema, esses fatos ocorrem e deixam um ensinamento valioso para mim, apesar de eu não segui-los com muito rigor, então vira e mexe acontece as merdas de sempre. Gente burra só aprende quando se fode muito...

A alguns anos atrás para tentar alavancar a minha carreira e tirar a minha bunda do conformismo, decidi aceitar uma proposta de emprego feita pelo meu irmão mais velho. Ele, naquela época, era líder de ensino em uma escola de informática e precisava de um novo Instrutor. Decidi aceitar, já que meu emprego atual não estava rendendo tanto frutos e eu já estava cansado de trabalhar aos fins de semana e perder toda a diversão que acontecia. 

Fiz a entrevista e passei, muito nas coxas, mas passei. Tive que engolir uma apostila de Administração Básica em 2 dias para dar uma aula que já estava agendada, ou seja, eu iria começar a dar aulas sem nenhuma experiência e o pior, iria assumir uma turma no meio do curso. Uma turma em andamento é a pior coisa que existe pra um instrutor, pois os alunos estão acostumados com o jeito do instrutor antigo e geralmente não aceitam muito bem a mudança, mesmo que não tenham escolha.

O antigo instrutor dessa turma havia "abandonado" a escola por que conseguiu uma oportunidade em outra empresa. Cara esperto. Se eu soubesse o que estava por vir, teria saído correndo também. A turma era composta de crianças, adolescentes e adultos, tinha praticamente todas as idades, o que já é outra merda, pois quando se mistura muitas pessoas com idades tão diferentes na sala, a aula fica ruim de se ministrar. É difícil manter um foco. Não da pra usar muitos exemplos adolescentes, nem muitos exemplos infantis e tão pouco falar sério o tempo todo. Pra completar o antigo instrutor era um palhaço, fazia muita piada, teatrinho e só faltava fazer malabares no meio da aula pra segurar a atenção dos alunos. Os alunos adoravam, claro, mas matéria que é bom, NADA!

Logo percebi que o conteúdo estava atrasado e que teria que adiantar tudo de alguma maneira, para que eles não fossem prejudicados.

Quando entrei na aula e me apresentei os alunos fizeram aquela cara de "quem é essa idiota?". Tentei dar continuidade ao conteúdo mas eles não conseguiam acompanhar, tentei manter uma linha de raciocínio, mas sem sucesso. Esses alunos começaram a ter antipatia por mim e eu inexperiente, não sabia o que fazer. Conversei com a turma por diversas vezes, explicando que o antigo instrutor já não estava na escola e que eles teriam que recuperar o tempo perdido com palhaçadas para pegar todo o conteúdo proposto pelo curso. Mas não tive sucesso, eles não entendiam.

Na turma existia uma aluna bem mais velha que os demais. Deveria ter uns 28 anos, mas parecia ter seus 47 de tão rabugenta e feia. Essa mulher reclamava por tudo, não entendia, não gostava na aula e juro que eu respirava fundo toda vez que ela abria a boca. Eu contava até 10 para não mandar ela tomar no cú e enfiar as reclamaçõezinhas dela por guela abaixo.

Resisti. Tive que resistir! Como sou um cara que tenta fazer as coisas da maneira mais correta, tentava achar algum meio de me aproximar daqueles alunos e deixar claro que estava ali para ajudá-los. Uns meses depois a turma terminou o curso e eu sorri! É muito anti-ético eu dizer isso, mas eu sorri. Não continha minha alegria.

Meu trabalho na escola continuou e eu nunca mais tive que ver esses alunos (graças a Deus), mas se eu encontrá-los algum dia, acho que gostaria de saber como estão. Se encontraram algum emprego, se ainda estudam e etc.

Quando você é o professor, que pode-se dizer que você é o outro lado da moeda, as coisas são completamente diferentes do que se espera. Existem milhares de coisas para se considerar, fazer, estudar... Você nunca agrada 100% da turma, nunca! Por isso eu digo, não se torne professor, de nada.

A não ser que você goste muito da profissão, pois o que as escolas menos precisam é de professores frustrados com o que fazem.

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